Para ele, nada importava
mais do que o Flamengo

Em 11 de outubro de 1942, acompanhado por alguns músicos e levando uma faixa com a frase “Avante, Flamengo!” para a partida final do campeonato, Jayme de Carvalho fundou a primeira torcida organizada do Flamengo, a Charanga do Flamengo. Com ela, contribuiu para o formato festivo das torcidas, com música, faixas e camisas. Tinha a chancela da imprensa, das autoridades e das instituições esportivas, sendo um elo entre estes e os demais torcedores. Obteve tamanho prestígio que a sua atuação e a sua Charanga inspiraram torcidas rivais, até de outros estados, tendo relações amistosas com líderes de torcida de outros times. Jayme era o modelo de chefe de torcida, assumindo o papel de estimular o apoio incondicional pelo Flamengo, evitar tensões entre torcedores e organizar os aficionados nos eventos esportivos.  Seu destaque o levou para a liderança da torcida da seleção carioca e da torcida brasileira em Copas do Mundo. Aliás, em 1958, foi condecorado como “torcedor número 1” do Maracanã pelo chefe de polícia Nelson de Mello, por conta das suas posturas e da sua relação de harmonia com a polícia. Inclusive, cabe ressaltar: seu apoio e de sua torcida não se resumia ao futebol. Sua Charanga esteve presente nos demais esportes, nas ruas, nos aeroportos para recepcionar jogadores, nas comemorações de títulos, nos bondes a caminho do jogo e, ocasionalmente, até nos gramados. Quando houve o retorno de Perácio, atleta rubro-negro que serviu a FEB na Segunda Guerra Mundial, coube a Jayme organizar as lembranças dos torcedores que seriam entregues ao jogador. Além disso, a participação de Jayme por vezes foi destaque em concursos, conferindo-lhes credibilidade e, por outro lado, contribuindo para a sua fama. Foi um marco. Se no estádio, durante muito tempo, o jogo era a atração exclusiva, nos anos 1940 o torcedor tinha outra: ia para o Maracanã, chovendo ou com o sol queimando, para ver a Charanga do Jayme tocar, como cantou Roberto Silva em samba de autoria de Wilson Batista e Jorge de Castro.

 

Crédito da imagem: Acervo Pessoal

 

 

 

 

Saiba mais:

HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de. A festa competitiva: formação e crise das torcidas organizadas de futebol entre 1950 e 1980. In: HOLLANDA, B. B. B. de; Melo, V. A. de.. (Orgs.). A torcida brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.

_____________. A invenção do torcedor de futebol: imprensa esportiva, profissionalismo e a formação das torcidas organizadas do Rio de Janeiro (1936-1968). HISTÓRIA (SÃO PAULO), v. 42, p. 1-28, 2023.

_____________. O clube como vontade e representação: O jornalismo esportivo e a formação das torcidas organizadas de futebol do Rio de Janeiro (1967-1988). Tese (Doutorado em História). Rio de Janeiro, PUC-Rio, 2008.

PINHEIRO, Caio Lucas Morais. As ondas que (se) movem (n)o mar das torcidas: Das charangas à guinada antifascista na Ultras Resistência Coral (1950-2020). Tese (Doutorado em História). Porto Alegre : UFRGS, 2020.

ROCHA, Lucas Abrantes da. Entre títulos, gaitinhas, balas, colunas e Charanga: O fortalecimento da identidade nacional-popular do Clube de Regatas do Flamengo nos anos 1940. Dissertação (Mestrado em História). Niterói : UFF, 2024.

VALENÇA, Suetônio Soares. Tra-la-lá : vida e obra de Lamartine Babo. – 3. ed., rev. e ampl. – Rio de Janeiro : FUNARTE, 2014.